terça-feira, 14 de agosto de 2012

A arte de fazer arte - III

- Professor O. a Irmã A. está chamando o senhor.
- Nessa eu não caio, Jairo! – respondeu o professor rindo.
Era 1º de Abril e eu estava pregando peças em todos. Disse à Doralice que a Professora Dona R. estava chamando na sala da 6ª série. Enquanto ela se dirigia para a sala da 6ª série, eu falei, todo sério, com nosso professor de Geografia:
- Professor L., a Irmã A. está chamando o senhor.
- Onde ela está?
- Na hora que ela me falou ela estava entrando na Diretoria.
Ele se dirigiu para lá e eu entrei na minha sala. Sentamos e o Professor O. começou a aula de Ciências, fazendo a chamada.
- A Doralice não veio? – ele perguntou.
- Veio. – respondi rindo. – É que ela está com a Professora Dona R.
A Doralice entra na sala, gesticulando nervosa “mentiroso, mentiroso!”.
- A Dona R. não estava me chamando. Mentiroso!!
Todos riram e ela perguntou:
- Porque ele está falando mentira?
- Hoje é 1º de Abril, dia da mentira. Pode falar mentira  à vontade.
Quando o recreio estava terminando, duas alunas da 6ª série voltavam do pátio e eu disse, com sinais:
- “Hoje confissão Padre Vicente. Esperar na capela. Vocês atrasadas já”.
Elas deram meia volta e foram para a capela. Eu voltei para minha sala. O Professor O. estava ministrando a aula de Matemática (ele lecionava as duas matérias, Ciências e Matemática).  A Irmã A. entra na sala e começa a conversar com o professor. Sempre prestávamos atenção quando a Irmã A. entrava, porque era alguma informação ou modificação nos horários de aula. E li direto nos lábios dela:
- Professor O. não teve aula de Geografia para ninguém hoje. Não sei o que aconteceu, mas o Professor L. foi embora, após perguntar onde eu estava.
- Isso é o Jairo e as brincadeiras de 1º de Abril. – dedurou o professor, rindo, sabendo que eu tinha falando com todos os professores que a Irmã A. estava chamando.
- Ê, menino! O Professor L. estava pedindo alguns dias de licença e quando você disse que eu estava chamando, ele pensou que era para dispensá-lo e foi embora.
- Não sabia disso não, Irmã. Eu falei de brincadeira.
Neste momento entra a Irmã G., Professora de História, preocupada:
- Duas alunas da 6ª série não voltaram do recreio, procuramos e não encontramos em lugar nenhum.
As Irmãs A. e G. saíram da sala e o Professor O. ia continuar a aula, mas o Adão escutou o que a Irmã G. disse e me informou, já sabendo o que eu tinha aprontado:
- Professor, manda as Irmãs buscarem as duas na capela.
- Capela? Como você sabe que elas... Jairo, o que você aprontou agora?
- Eu disse que hoje tinha confissão do Padre Vicente e falei para as duas irem para a capela.
O Professor O. foi até as Irmãs e informou onde estavam. As duas estavam na capela, sentadas no primeiro banco, caladinhas, esperando o Padre Vicente. O Padre Vicente era uma grande figura. Referência para todos os surdos, devido à sua luta para se tornar padre. Ele foi o primeiro padre surdo do Brasil. Era muito amigo de todos os surdos, principalmente por usar a língua de sinais. Era também bastante enérgico conosco.
O Padre Vicente não estava lá, claro.
O Professor O. voltou e contou o que tinha ocorrido.
- Professor, a Irmã A. vai me dar uma advertência depois dessa? – perguntei, meio temeroso.
- Não, Jairo. – e se aproximou de nós, segredando – Não contem para ninguém, mas quando eu disse para a Irmã A. o que você aprontou, ela soltou uma gargalhada.
E o Professor O. acrescentou, ele mesmo rindo muito:
- Nunca tinha visto a Irmã A. gargalhar antes.

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