sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Romaria por igrejas de Minas

Mães amam os filhos incondicionalmente. Em uma certa idade os filhos rompem a ligação umbilical com a mãe, mas a mãe jamais corta esta ligação. A preocupação dos filhos com os pais se reduz, principalmnete se o filho(a) se casa e tem seus próprios filhos, aos quais transfere sua ligação.
Minha mãe se preocupava muito com todos os filhos, mas teve que se preocupar muito mais comigo no ano em que perdi a audição. Eu entrei em coma em Formiga, me trouxeram para Belo Horizonte e só aqui os médicos diagnosticaram a meningite e começaram o tratamento correto. Somente uma semana depois saí do coma, já surdo e só anos depois minha mãe contou:
- Eu emagreci muito quando você ficou em coma. Neste tempo eu quase não conseguia comer.
Depois, quando eu também tive os meus filhos, entendi todo o sofrimento de minha mãe. Vale a máxima que as mães repetem sempre que os filhos contestam tanta preocupação: "Quando você tiver filhos você vai entender!"
Uns seis meses depois que saí do hospital em BH e voltamos para Formiga, minha mãe insistiu para que eu fosse junto à uma missa na Capela de São Geraldo. Insistiu que eu rezasse e agradecesse ao São Geraldo. Mais alguns meses e minha mãe me levou em Divinópolis, não lembro bem porque, só lembro que visitamos a Igreja de Santa Rita de Cássia. Aqui em Belo Horizonte minha mãe insistiu que fôssemos na Igreja de São Sebastião, no Barro Preto.
Anos depois, eu já estava casado e com filhos, andando com minha mãe no centro de Belo Horizonte, avisto um ônibus com destino para Roças Grandes.
- Esse eu não conhecia! - disse para minha mãe.
- É um local de Sabará. Lá tem a Igreja de Santo Antõnio das Roças Grandes. "A gente precisa" ir lá.
Fiquei curioso:
- Porque?
- Quando você estava no hospital, muito ruim, eu não estava muito bem, nem me alimentava direito e sua tia Olímpia me acompanhava, rezando terços e fiz algumas promessas. Prometi que se você saisse vivo do hospital, iríamos em Santo Antônio das Roças Grandes.
Lembrei então da romaria de minha mãe, me levando por diversas igrejas de Formiga, Divinópolis, Belo Horizone.
- Mãeeee!! - eu disse, rindo - Não acredito que a senhora fez promessas para todos os santos!!
Minha mãe riu também:
- Não foi para todos não. Mas, algumas das promessas eu não lembro mais!
Quando fiquei surdo perdi o ano escolar em Formiga. No ano seguinte mudei-me para Belo Horizonte, para estudar no Instituto Santa Inês (para surdos). Morei junto com as irmãs mais velhas, enquanto minha mãe e as irmãs mais novas continuaram em Formiga. Isso não permitiu que minha mãe continuasse me levando em igrejas por Minas afora.
- E esse tanto de promessa que a senhora não cumpriu? Ainda mais tendo que me levar junto?
- Paguei umas três ou quatro das promessas. Você mesmo foi sozinho em Aparecida do Norte.
Eu tinha ido em uma excursão com o pessoal da gráfica, que passou pelo Rio de Janeiro e depois São Paulo, principalmente Aparecida do Norte.
- Deus compreende todo meu sofrimento e desespero naquele momento e portanto, as promessas que eu paguei, pagam todas.

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