domingo, 8 de maio de 2011

Hoje é domingo, dia das Mães

Minha mãe me acordava para eu ir trabalhar, 5:20 h da madrugada. Fazia um café, arrumava a marmita. De vez em quando cozinhava um ovo. Naqueles tempos em que eu trabalhava na gráfica, levar marmita era mais vantajoso que almoçar num restaurante. A gráfica não fornecia refeição nem ticket, pois a adesão ao PAT-Programa de Alimentação do Trabalhador não é obrigatória. No horário de almoço eu abria a marmita e "descobria" o que minha mãe tinha preparado. Normalmente, às segundas-feiras era frango, pois praticamente todo domingo minha mãe fazia frango assado, temperado com cerveja, uma delícia, denominado "frango bêbado". Nos demais dias da semana, bife, carne cozida ou linguiça. Houve um dia, porém, que abri a marmita e só havia arroz. Nem feijão, nem verdura, nem carne... Como o horário de almoço era somente 1 hora, e já haviam transcorridos uns 20 minutos, não havia tempo hábil para ir ao restaurante. Meu colega, o Wander (o Ceguinho) me deu um pedaço de carne e eu almocei assim mesmo, arroz e carne.
Chego em casa e começo a reclamar com minha mãe:
- A senhora encheu a minha marmita de arroz, mãe! Como é que pode?
- Eu coloquei o arroz ontem e guardei a marmita na geladeira. De manhã era para colocar o resto, mas eu esqueci.
Meu amigo Luizinho morava conosco nestes tempos. Ele tomou as dores da minha mãe e contemporizou:
- Jairo, sua mãe esqueceu... isto acontece, cara!
- Mas não gostei não! Minha marmita cheia de arroz puro! Eu não sou chinês!
O Luizinho e minha mãe desatam a rir. Rindo eles amenizam minha irritação e fica tudo numa boa.

Tempos depois, chego em casa e torno a reclamar:
- Mãe, a senhora inventou de colocar arroz, feijão, abóbora e carne...
- Já vai reclamar da marmita de novo, Jairo? - exaspera o Luizinho - Estou comendo num restaurante, uma comida razoável, porque não tem onde esquentar marmita lá onde eu trabalho.
- É porque segunda minha mãe colocou arroz, feijão, abóbora e frango. Terça, arroz, feijão, abóbora e carne. Quando chega quarta, eu abro a marmita e lá está: arroz, feijão, abóbora e linquiça. Quinta e sexta, a mesma coisa... arroz, feijão, abóbora e carne.
- E não está bom? - pergunta minha mãe.
- Está, mas parece que a senhora fez um estoque de abóbora aí. Todo santo dia eu tô comendo abóbora.
- Não precisa ficar nervoso, menino!
- Eu fico, né, mãe. Não aguento mais ver abóbora na minha frente!!
- Calma... você está nervoso demais. Vou fazer para você um chá de ABÓBORA!!
- Mããããeee!!!

Minha mãe me acorda e quando estou tomando o café, estica a mão e diz:
- Parabéns, meu filho!
- Ahá, parabéns o que, mãe?
- Ih, menino, é seu aniversário!
Eu não ligava para a data de meu aniversário. Era um dia como outro qualquer. E só lembrava que era meu aniversário quando olhava um calendário. Minha mãe sempre lembrava e minhas irmãs lembram até hoje. Eu que sou o mais esquecido com as datas de aniversário, das irmãs e dos sobrinhos. Tenho 5 afilhados e não sei a data de aniversário deles. Só quando já estava com mais idade foi que passei a lembrar das datas e hoje, com a agenda do celular, não tem como esquecer. 
Ri do meu esquecimento e falei com minha mãe:
- Nem lembrei que hoje é meu aniversário.

Só com mais idade valorizei bastante estes momentos de manhazinha com minha mãe. Às vezes, como filho, pensamos que as mães são obrigadas a fazer tudo isso, acordar cedo com a gente, arrumar marmita, lavar e passar roupa. Minha mãe se preocupava muito comigo, que eu me alimentasse direito, que tivesse boas refeições. Por isto ela fazia questão de sempre arrumar minha marmita. As conversas eram fáceis, pois a convivência diária facilitava muito a leitura labial do que minha mãe falava. Muitas vezes a conversação parecia entre pessoas normais, pois ela não precisava repetir o que estava dizendo. Jovem, a gente não dá muito valor a estas pequenas coisas, e só mais tarde rememoramos como era confortável ter uma pessoa a nos tratar com tanto carinho e amor. Minha mãe faleceu há seis anos.

Chego em casa um pouco mais tarde e vou jantar. Na mesa,minha irmã mais velha assiste novela. Olha para meu prato e diz:
- Olha só, você é o filho privilegiado.
- Porque?
- Você está jantando arroz, feijão, verduras e carne. Eu e suas outras irmãs já jantamos... - minha irmã fala devagar, dramatizando mais ainda - Só que para nós... óó, a janta foi macarrão. Só macarrão.
- E daí? Eu não gosto de macarrão mesmo.
- Certo, só que a mãe fez macarrão para a janta e foi o que nós jantamos. Mas para você, que não gosta de macarrão, minha mãe guardou arroz, feijão e carne.

Bom... feliz dia das Mães!

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